alfabetizar em casa

Neste momento de quarentena ou em qualquer outro a educação sempre precisou de uma parceria pais e escola. E percebo que muitos se sentem confusos quando precisam orientar seus filhos em tarefas, principalmente na fase da alfabetização. Pensando nisso, trago algumas considerações para orientar nessa complementação da aprendizagem que os pais podem fazer em casa, sem trazer prejuízos às crianças.

Como alfabetizar em casa em parceria com a escola?

A alfabetização é um dos processos mais complexos no inicio da escolaridade, pois é a base para qualquer outro conhecimento. E compreendo a ansiedade de todos os envolvidos. Trago algumas considerações bem básicas apenas para esclarecer algumas confusões sobre esse processo.

Durante o processo de alfabetização penso que tem dois conceitos primordiais que precisamos ter sempre em mente. Primeiro que ler e escrever é uma construção social, ou seja, os símbolos usados devem ser ensinados não é algo que surge de modo instintivo como a fala. E o segundo é diferenciar o decorar os símbolos da compreensão da escrita e leitura. Tendo esses dois conceitos em mente, trago algumas considerações desse processo de alfabetização, de modo bem resumido:

1) Ter contato com materiais escritos:

Em qualquer aprendizagem em nossa vida, sempre que percebemos esse “conteúdo” como essencial ou importante fica mais fácil nos envolvermos e nos dedicarmos ao conhecimento. Deste modo quanto mais contato a criança tiver em seu dia a dia com os diferentes gêneros textuais mais fácil será o momento da alfabetização.

Tenha livros infantis ao alcance da criança, deixe que ela manuseie e invente histórias se orientando pelas imagens ou pela memória. Leia muitas histórias para as crianças. Isso ajuda a criança a perceber o lado lúdico da leitura e a criar vocabulários, noção de sequência de fatos, iniciar a interpretação textual de modo oral. Criando a vontade por conhecer novas histórias e assim se interessando pelas letras.

Demonstre para a criança, sempre que possível, a função social da escrita: ao ler nomes de ônibus, quando se procura uma informação no celular, ao ler uma receita, listas de mercado, bulas de remédio, bilhetes… Conforme a criança vá interagindo com esses materiais escritos ela começa a perceber letras, estilos de textos e a importância que ler e escrever tem em nossa sociedade.

2) Rotina Alfabetizadora:

Utilize-se de momentos do cotidiano para incentivar a curiosidade da criança sobre palavras, letras e outros conceitos alfabéticos. Por exemplo, em momentos de guardar alimentos ou fazer compras proponha brincadeiras para a criança encontrar outros alimentos que tenham o mesmo som de um determinado alimento. Ou quando for ler uma receita chame a criança para ajudar e questionar se encontra a escrita de palavras simples como ovo. Ou em outros escritos como nomes de rua/outdoor a criança procurar letras que sejam iguais aos do seu nome.

Brinque com as possibilidades encontradas no dia a dia. Deste modo aproveite a rotina para lembrar a criança da existência das letras ajudando a percepção que a escrita tem relação com a fala. Tenha o cuidado para não exagerar, não é algo para fazer todo o tempo e sim como uma brincadeira quando for pertinente.

3) Lidando com o erro:

Em qualquer aprendizagem temos que usar o erro ao nosso favor. Assim quando a criança não souber a resposta ou a fizer de modo equivocado, o adulto pode apontar a direção certa a ajudando e nunca a acusando ou se zangando. Por exemplo, se ao perguntar: Com que letra inicia URSO, e a criança responder O. Repita a pergunta mostrando o som do U, e relembre algo com o mesmo som. Se mesmo assim a criança não acertar. Fale a resposta certa sem acusações. Depois de um tempo retome a mesma pergunta para ver se a criança compreendeu, senão encontre outra maneira para ajudar a criança a compreender o conceito propondo diferentes brincadeiras sobre o mesmo assunto.

A alfabetização é um processo contínuo, ninguém aprende a ler na primeira vez. Deste modo, há a necessidade de se repetir (de modos interessantes) muitas vezes os mesmos conceitos. (texto sobre como lidar com o erro, AQUI)

4) Interesse x obrigação:

O objetivo é de auxiliar a alfabetização e não torná-la um pesadelo para as crianças. Por isso, evite forçar a criança a ficar muitas horas por dia envolvidas com questões estruturadas. Não precisa ser algo diário, mas caso queria manter uma educação sistemática organize a rotina de casa permitindo que a criança tenha momentos livres para suas brincadeiras. E separe no máximo uma hora por dia para envolvê-la na alfabetização, sempre levando em conta a busca pelo lúdico durante esse momento. Ao perceber que a criança não está “rendendo” se mostrando irritada ou impaciente pare a lição, mude de estratégia trazendo novas brincadeiras e desafios ou deixe a continuação para outro momento.

Queremos que a criança se apaixone pela alfabetização para ao crescer ser um adolescente e adulto interessado em ler, estudar e refletir, e não alguém que relacione leitura como algo chato. Tudo que aprendemos com prazer nos deixa boas marcas que iremos levar pela vida, e isso pode significar a diferença entre o sucesso e o fracasso em determinadas aprendizagens.

5) Nome da letra x Som:

Durante a alfabetização a criança precisa identificar principalmente como cada letra se apresenta (a escrita da letra) e conseguir relacionar essa escrita com o nome da letra. Essa etapa é basicamente uma “memorização”, o quê não significa colocar a criança em frente das letras para ela falá-las até cansar. E também, quando a criança sabe todos os nomes das letras não quer dizer que sabe ler ou compreende o quê está a sua frente.

No geral, ao trabalharmos com o nome próprio da criança ela consegue depois de um tempo escrevê-lo e até reconhecer a escrita completa quando a vê, mas normalmente o quê aconteceu foi que ela decorou a sequência das letras como fazemos ao decorar uma sequência de cores. Ela não o está lendo em suas letras, isso só acontecerá quando ela conseguir compreender a total relação dos fonemas com as letras.

Por isso, decorar o nome e a escrita correspondente de cada letra é importante para fazer a relação dessa letra com seu som na escrita. E assim, aos poucos ir percebendo que cada letra representa um som da nossa fala e ir traduzindo os sons de palavras conhecidas em suas letras. Aqui é normal a criança ir escrevendo conforme fala como: (CAZA para Casa).

Uma dica quando a criança cometer, no início, esses erros ortográficos é apontar o erro para evitar que a criança decore a escrita errada. Diga: “Casa tem som mesmo de Z, seu pensamento tava certo, no entanto tem regrinhas especiais para algumas palavras, e essa palavra escrevemos com S.” Não se detenha em muitas explicações de regras neste momento, aqui o importante é apenas a criança compreender que tem exceções, permitindo que ela mantenha o raciocínio e confiança na formação de palavras, mas sem se prender ao erro.

Quando a criança está aprendendo os sons das letras ela irá fazer várias tentativas de escritas erradas, esse é o processo esperado. Sempre que aprendemos algo novo, ficamos confusos sobre como realmente tudo funciona. Vá ajudando a criança com brincadeiras que relacionem a imagem da letra com seu som.

6) Escrita das letras (diferentes letras):

Diferente de reconhecer a escrita de uma determinada letra é conseguir reproduzi-la no papel. Quanto mais nova a criança maior dificuldade ela terá, por uma questão de desenvolvimento motor e controle muscular dos dedos e mãos. Deste modo proponha atividade da escrita da letra usando letras grandes e materiais diferentes. Nunca coloque a criança para sair fazendo caligrafia ou ficar escrevendo linhas e linhas daquela letra, isso só fará ela criar ódio do aprendizado.

Caligráfica pode ser usada, com moderação, em uma fase posterior lá pelos nove anos se a criança apresenta muita dificuldade na escrita de algumas letras, mas apenas com o objetivo de sua escrita se fazer entender e não pela beleza. Afinal o quê realmente importa em uma escrita é ser entendida. Não faça suas crianças perderem o gosto pela escrita ou leitura, apenas por não conseguirem ter a letra linda e redonda.

Inicie a escrita das letras com os tipos fáceis como a bastão maiúscula (A, B, F). Quando a criança conseguir escrever com facilidade e em tamanho adequado (na linha) essas letras, então, pode-se iniciar a apresentação da letra cursiva e de outras letras de forma.

Conhecer diferentes tipos de letras é essencial para que a criança seja capaz de ler qualquer material impresso. No entanto, não é essencial que ela escreva sempre em letra cursiva, caso apresente dificuldade nisso, então não gaste toda a energia do ensino nesse aspecto.

7) Decodificar sílabas/palavras x leitura:

O processo de leitura acaba sendo mais complexo do que o da escrita ou a aprendizagens dos sons. É comum as crianças saberem todos os sons das letras e até de suas sílabas, mas apresentarem dificuldades na hora de juntar uma na outra e formar palavras. Por isso é importante essas brincadeiras que envolver as sílabas e suas junções.

Leitura é algo que a criança vai se aprimorando. Inicie com palavras pequenas de duas sílabas para ficar mais fácil, ajudando a criança a juntar os sons e depois repetindo a palavra lida para que ela a ouça de modo completo. Conforme a criança vai avançando nessa capacidade fica mais fácil para ela a leitura.

Desde o começo da alfabetização quando contar histórias para as crianças ou ler algum material impresso a sua frente, vá mostrando com a ponta do dedo qual palavra está sendo lida. Isso a ajudará a compreender a direção que o texto deve ser lido e que há espaços entre as palavras, além dela ir memorizando algumas palavras que depois podem lhe ajudar nesse processo de comparação de sons para realizar a decodificação e ler.

Ao trabalhar a leitura tenha paciência, não interrompa a criança falando a próxima sílaba ou dizendo algo que a faça ficar com vergonha da sua inabilidade. Se a criança se sentir muito pressionada pode ficar com vergonha e nervosa e assim ter ainda mais dificuldade. Ajude-a mostrando que tudo bem gaguejar ou falar errado, pois todos que aprenderam erraram. Oriente a criança mostrando as sílabas com a mão e relembrando palavras semelhantes: “Lembra? Aqui é a mesma sílaba que a do gato…” E vá acompanhando na junção das sílabas.

8) Interpretação da leitura:

Conseguir ler e entender a palavra ou frase não é exatamente o mesmo que interpretação. Para que a criança absorva todo o sentido de um texto ou frase ela deve ser capaz de responder perguntas sobre esse, como: do que está falando o texto, sobre quem, onde aconteceu o texto… E realizar um resumo oral deste contando a sequência dos acontecimentos.

No começo pode ser difícil a criança ler e depois interpretar, assim você pode ajudar relendo o texto em voz alta uma vez. E depois faça perguntas sobre o texto, quando a criança ficar em dúvida releia para ela a parte que contém a pergunta para ela encontrar a resposta.

Compreender um texto é algo que a criança pode fazer mesmo antes de ser alfabetizada, cada vez que contamos uma história e depois perguntamos sobre o quê aconteceu, ou sobre os personagens estamos ajudando a criança a interpretar esse texto. Mais adiante, conforme ela aprende a ler, poderá fazer isso sozinha.

O quê torna uma alfabetização realmente de sucesso é a capacidade de interpretação, pois queremos que nossas crianças sejam adultos que leiam e entendam todo o significado do texto e não que apenas decodifiquem palavras e frases simples. Por isso, abuse da interpretação de textos, use-a diariamente com as crianças fazendo perguntas sobre qualquer história, notícia, bilhete, receita… que tenham contato diariamente.

Até com desenhos animados podemos fazer uma interpretação oral, quando levamos a criança a prestar atenção aos detalhes, sequência e acontecimentos do que ela vê.

Espero que essas dicas tenham facilitado para todos os envolvidos ajudar à criança nesse processo complexo que é se alfabetizar.

 

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Abraços, Shana Conzatti

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